11.30.2006

* Feira da Música Polifönica



Filas intermináveis, empurra-empurra e vendedores estressados?
Espírito natalino?! A polifönica promove a tradicional e saudosa Feira da Música e salva suas compras deste fim de ano.

O melhor da música independente brasileira a preços bem camaradas.

Rock . jazz . blues . groove . samba-rock . MPB .
Rogério Skylab . Karine Alexandrino . Cravo-da-Terra . Wado .
Ambervisions . Bonsucesso Samba Clube . Delicatessen . Beto Britto .
Brasil Papaya

++++++++
E mais: camisetas e bottons polifönica [Karine Alexandrino,
The Dolls, B-Driver, Zuleika Zimbábue e muito mais].


*** 06/12 e 07/12 (quarta e quinta)
hall sul do Centro de Eventos/UFSC
das 11h às 18h

e

*** 08/12 (sexta-feira)
CIC / Café Matisse
das 18h às 23h

Apareçam e divulguem!
ps.: se vc quer deixar cds de sua banda à venda na Feira da Música,
mande um email pra gente!

11.27.2006

* Ceumar e Gigante Brasil no Youtube




clique aqui para ver o vídeo:

*
[polifönica produções, 2004]
[fotos: Paula Albuquerque]
[vídeo: Juliana Barbi]

Estamos felizes-felizes em disponibilizar nosso primeiro vídeo no youtube. Muitos outros em breve!
Ah, deixem seus comentários por lá e por aqui, está bem?
*
*
[O Seu Olhar]
Autor: Paulo Tatit / Arnaldo Antunes

O seu olhar lá fora,
O seu olhar no céu,
O seu olhar demora,
O seu olhar no meu,
O seu olhar, seu olhar melhora
Melhora o meu.

Onde a brasa mora e devora o breu
Como a chuva molha o que se escondeu.
O seu olhar, seu olhar melhora, melhora o meu.

O seu olhar agora, o seu olhar nasceu, o seu olhar me olha, o seu olhar é seu.
O seu olhar, seu olhar melhora, melhora o meu...

11.22.2006

* Subtrøpikåliæ #1: bacalhau completo [ou: o renascimento de Aldo Alves]


"Har du tid och pengar, så köper du min samba."
[Se tiver tempo e dinheiro, vá comprar o meu samba.]
-Cornelis Vreeswijk, interpretando “Quem te viu, quem te vê” de Chico Buarque
*
*
Aldo Alves, re-nascido, re-vestido. Refazendo tudo, realçando, reAldo. Quando cheguei ao Brasil, há um ano e meio, já sabia o que me aconteceria. Já previa meu renascimento musical. Vim para o Brasil por sua música – na realidade, sobre o Brasil somente conhecia a música. Sobre o resto, tinha em mente, basicamente, uma imagem da África na época colonial. Levei todas as minhas camisetas brancas e ordinárias, e um gorro ridículo, roupas pra botar no calor ardente da savana brasileira. A maior parte das roupas de que eu realmente gostava, deixei em casa, ali na terra do bacalhau, e do A-Ha. Afinal, o Brasil não era tão longe de casa.

Ainda não havia visto a globalização na prática. Hoje vi, e a vejo todo dia. Foi a globalização que trouxe a música brasileira pra Noruega, pra Aldo Alves ouvir, pra Aldo Alves se apaixonar. Foi a globalização que criou a bossa nova, que levou Tom Jobim, João e Astrud Gilberto pra Nova York, pra, em 1963, gravar o disco Getz/Gilberto, com o rei do sax crocante, Stan Getz. Foi a globalização que então trouxe este disco pra uma loja de discos em Bergen, Noruega, pra minha mãe ouvir, curtir, comprar. Disco que Aldo Alves, trinta anos depois, acharia entre muitos discos sem graça (e alguns outros também graciosos) numa estante, sob um toca-discos ainda funcionando, em Asker, subúrbio de Oslo, tão burguês quanto a Copacabana da década de 60 de Tom e de João. Subúrbios tão fora do mundo, e tão dentro; subúrbios tão globalizados, tão globalizantes.

Depois deste primeiro encontro crucial com a música brasileira - Aldo Alves meets the Bossa Nova -, haveria outros, igualmente essenciais. Talvez o mais importante: com Rios, Pontes e Overdrives, de Chico Science & Nação Zumbi, ouvido no fim do ano de 2001. Tinha me encontrado com um norueguês, ex-estudante no Brasil, que, felizmente, havia trazido bastante música brasileira pra nossa terra. Trocamos discos de música brasileira e ouvi Rios, Pontes e Overdrives. Pra mim, música puramente eletrônica. Não podia entender esta música de outra maneira. Era música pra dançar e, na Noruega, música pra dançar é por definição eletrônica. Minha cabeça musical, conhecendo já a bossa nova, a tropicália e o Clube da Esquina, não tinha referências nem categorias para entender o mangue beat como música orgânica (levaria muitos anos ainda para as categorias necessárias se criarem). Desentendi, achando música eletrônica, e entendi como música pra dançar - por essas duas razões, adicionei-a ao meu DJ set. Entendimento é interpretação, só pode ser interpretação. O mangue beat se incorporou na narrativa musical aldoalvense, sem precisar ser brasileiramente entendido.

Outro encontro crucial foi com Chico Buarque. Ele, também, na coletánea de vinis da minha mãe. Só que ele cantava em sueco, através do cantor sueco-holandês Cornelis Vreeswijk. Bruna Bönor Complêt, uma história sobre um casal sem vontade de sair da cama pra almoçar, então abre uma lata de feijão. E Deirdres Samba, sobre uma prostituta do morro do Rio de Janeiro, ganhando seu dinheiro com turistas na Copacabana. Depois de chegar ao Brasil, procurei por quase um mês os originais dessas canções, ouvindo toda nova coletánea de Chico Buarque, não sabendo os títulos dos originais. Um dia, numa daquelas caixas de discos por dez reais nas Lojas Americanas, achei os dois. Numa coletánea: Feijoada Completa, em outra: Quem te viu, quem te vê. Foi um dia de festa. (Porém, até hoje, prefiro a versão sueca de Feijoada.)

Se a vontade de Ariano Suassuna fosse a vontade de Deus, eu provavelmente nunca chegaria ao Brasil - já que, daí, nem bossa nova, nem CSNZ e nem Chico [em sueco] chegariam à Noruega (nem, na real, ao Brasil). Mas, felizmente, o purismo cultural só existe na teoria. Na prática existe o Brasil, existe a América; nascidos da tentativa de levar a Europa para a Índia, da tentativa dos europeus e crioulos de destruírem diferenças culturais, da tentativa dos escravos de preservar sua(s) africanidade(s), da tentativa dos índios preservarem suas vidas. Por isso, digo pro mundo: ich bin ein Amerikaner. América é o berço da modernidade; por isso fui americano desde moleque. Muitos europeus denunciam sua americanidade. Eu acabei de descobrir a minha. All gone to look for America, I was never lost, but now I’m found.

Pra grande maioria de noruegueses, música brasileira e bossa nova são sinônimos. Em minha cabeça, existiam já, no momento do encontro com CSNZ, algumas categorias. Já havia aprendido a distinguir a Tropicália do Clube da Esquina e do mangue beat (e tinha uma noção rudimentaríssima, através das músicas de Chico-em-sueco, de o que era samba). Mas até chegar ao Brasil, a música que se pode realmente chamar, ritmicamente, de afro-brasileira fazia parte da minha categoria mental de bossa nova. Chegando na Bahia, fui ver um show do Núcleo de Percussão da Orquestra Sinfônica da UFBA. Pra mim, foi um espetáculo de bossa nova de primeira classe. Era um show de obras de Pixinguinha.

Brasil, meu Brasil brasileiro. I saw you dancing, and I’ll never be the same again, for sure. Fui-me embora daquele mundo de ilusão, cheguei, meu povo, pra cumprir minha obrigação.
*
*
To be continued, para sempre.

Este texto contém samples de Ary Barroso, Gilberto Gil, John F. Kennedy Jr., Jorge Ben Jor, maracatus de baque virado, a minha mãe, Os Originais do Samba, Simon & Garfunkel, vários filmes norteamericanos e Yaki-Da. Todos os samples usados sem autorização.

NOTAS:
[1] Minha imagem, obviamente com algumas modificações, ainda é essa. Brasil é África. Mais sobre isso no futuro.
[2] Por uma razão ou outra, na Bahia todo mundo sabe que A-Ha é banda norueguesa. Na Ilha de Santa Catarina, ninguém sabe. Na Bahia, eu era da terra do bacalhau e de A-Ha. Na Ilha, sou apenas da terra do bacalhau. Um peixe gostoso, sem dúvida, mas um peixe. Bem, quem precisa de boas razões e boas referências pra amar sua terra?


* Audun Hole [o norueguês mais brasileiro que a Polifönica já conheceu, em sua coluna no projeto da Revista Polifönica, fev.2005]

11.16.2006

* O caminho da independência


É inegável que está cada vez mais fácil gravar um disco. Justamente por isso, inúmeros lançamentos são jogados no mercado a cada dia. Como fazer para que sua gravação se destaque no meio de tantas outras? É claro que não existem regras. Mas alguns cuidados básicos podem fazer você economizar dinheiro e tempo, e te deixar nas mãos um produto mais bem acabado e com a qualidade que você queria.

A primeira etapa da gravação de um disco é a pré-produção. Ou seja, todo o tempo gasto antes de você entrar no estúdio. Defina quais músicas vão entrar, busque referências e ensaie, ensaie e ensaie. À exaustão e, de preferência, com um metrônomo. Escolha o melhor andamento para cada música e, se possível, já grave suas guias em casa mesmo, no seu computador. Lembre-se, também, de que às vezes é melhor um disco com oito, nove músicas bem gravadas e executadas do que um com 15, feito às pressas.

Com isso definido, escolha um estúdio. Pesquise preços, pergunte por equipamentos e tente escutar gravações já realizadas por lá. Converse com o engenheiro de som sobre o que você quer, e se é possível fazer com a grana que você tem disponível. Negocie, sempre.

Uma vez no estúdio, o taxímetro está rodando e o tempo é, literalmente, dinheiro. Leve discos de referência para que quem esteja gravando saiba que tipo de som você quer. Aqui todo equipamento é importante - desde seu instrumento, cabos, pedais, amplificadores e microfones. Se você não tem um bom instrumento, peça emprestado. Se acha que não vai conseguir fazer aquele solo, simplifique. Se a nota é muito alta pra você cantar, mude a melodia. Os softwares de edição ajudam, mas não fazem milagres. Tenha em mente que um som bem gravado desde o início só tende a melhorar, mas se a coisa começou mal, esqueça. É melhor começar de novo. Se você tem grana pra bancar um produtor, ótimo. Se não tem, sem problemas. Escute seus discos preferidos e tente perceber como eles fazem as coisas. Sempre dá pra aprender um pouquinho.

Depois de tudo gravado, vem a mixagem. Caso você não tenha um produtor, é melhor eleger uma pessoa da sua banda, no máximo duas, para cuidar da mixagem junto com o engenheiro de gravação. Muitas cabeças costumam confundir o processo e dificilmente consegue-se agradar a todos.

A mixagem está pronta. Então é hora da masterização. É ela que vai deixar seu disco com mais volume, coeso e com a cara profissional que você quer. Não pense que é frescura, a masterização é parte vital do processo.

Agora você já tem a master do seu disco nas mãos. Mas para prensá-lo ainda faltam algumas coisas. A primeira delas é a parte gráfica. A não ser que você realmente trabalhe na área, não se deixe levar pela tentação de fazer tudo sozinho só porque sabe mexer no Corel. Existem algumas especificações técnicas para a reprodução da parte gráfica que você provavelmente desconhece. Procure alguém da área ou se informe com a empresa que irá prensar seu disco.

Agora sim, está tudo pronto. Negativo. Para poder prensar um disco dentro da legalidade, você deve fazer parte de alguma das associações de compositores que existem no Brasil. Elas são afiliadas ao Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), órgão que cuida da arrecadação dos direitos autorais. São as associações que fornecerão para cada música de seu disco o número do ISRC (International Standard Recording Code) - código padrão internacional que age como um identificador básico das gravações fonográficas. É ele que facilitará a identificação das suas músicas e o recolhimento dos seus direitos autorais. E é item obrigatório para a prensagem de qualquer disco.

Com o disco finalmente nas mãos, corra pro abraço. A guerra por um espaço ao sol continua, mas a primeira batalha você já venceu.

*Mauricio Peixoto - vocalista e guitarrista da banda Os Berbigão (fpolis-sc)
[coluna Radiola, no projeto da Revista Polifönica - fev/2005]

11.13.2006

* Papel de mosca



Já faz uma semana e tanto. Cheguei a Storelosjen, 'Salão Grande' da Casa Estudantil de Bergen, sem inspiração alguma. Mas não se precisa de inspiração pra ser DJ. Eu acho que não. Um DJ sem inspiração pode ficar à vontade de escolher músicas inspiratoras pra tocar, e foi isso que eu fiz essa noite.

A música brasileira é papel de mosca. Quando alguém se senta, com amigos, em volta de uma mesa de bar norueguesa, e a música que se toca é brasileira, fica. Não tem razão de sair pra outro lugar. A música brasileira é o que a maioria da gente mais gosta de ser servido junto com a cerveja. Não há melhor acampanhamento. Sem inspiração, fiquei aí por quatro horas, botando no meu lugar Marcos Valle, Jorge Ben, Gil, Caetano, Tom Zé, Di Melo, Eddie, Olivia Byington, Paulinho da Viola e outros amigos da inspiração. Saí sabendo que a tarefa teria sido cumprida.

Botei aqui a lista das músicas que toquei. Não se acostuma a jogar tanta gente fora quando fecha Storelosjen às três e meia da madrugada. A próxima vez, vou aí com mais inspiração, acho. Papel de mosca faz um bom papel de DJ brasileiro.

paz e amor
Audinho da Vitrola
Engen 6, Bergen
mandag 14. november 2006
trilha sonora: Astor Piazzolla

arquitetura fuzz



O que lhe vem à cabeça se eu lhe perguntar o que é Arquitetura Bossa-Nova? Aposto que, mesmo sem saber coisa alguma sobre os períodos e estilos arquitetônicos, na sua mente surgirá a imagem de uma Copacabana de prédios luxuosos, calçadas desenhadas sugerindo a sinuosidade das ondas e do corpo das musas, além de cores suaves refletindo a luz do sol. Adivinhei? Se ao menos cheguei perto, então fará sentido o que direi nos parágrafos seguintes, pois a nossa conexão semiótica está plenamente estabelecida. Em todos os casos, pra sua informação, arquitetura bossa-nova é como ficou conhecido o estilo arquitetônico modernista no Rio de Janeiro dos anos 50, caracterizado pela obra de um velho conhecido nosso, Oscar Niemeyer. Oscarito tem declarações dignas de bossa-novistas malandrões como Vinicius de Moraes – ‘o que me atrai é a curva livre e sensual; a curva que encontro nas montanhas do meu país (...) e no corpo da mulher preferida’. Uh-lalá.

Mas nem toda arquitetura no Brasil é glamourosa como a de Niemeyer, assim como nem toda música brasileira é bossa-nova. A alguns quilômetros da voz ‘desafinada’ de João Gilberto, estava também a voz gritada de Gal, a psicodelia dos Mutantes e todo aquele tal de rock’n’roll. Como habitat de toda essa horda de jovens empunhando guitarras e desferindo berros ao microfone, só restava a garagem e os clubes – popularmente conhecidos como ‘inferninhos’ – onde podiam soltar o verbo à vontade sem serem repreendidos (a não ser pelos vizinhos!). O fato é que, ao contrário dos charmosos apartamentos onde o violão era rei, a arquitetura dos espaços onde imperava a guitarra não tinha nada de bossa, nem luxo, nem curva, nem nada. Muito pelo contrário...

...Liverpool, anos 60. Num ex-depósito de frutas e vegetais, 17 degraus abaixo do nível da rua, três salas com tetos abobadados e serragem no chão, umidade condensada chovia do teto enquanto pessoas dançavam ao som de mais uma apresentação dos... Beatles. Sim, esse era o Cavern Club, um clássico. Outros clubes como o The Flamingo e o Marquee Club ( berço dos Rolling Stones, The Who e outras milhares de bandas mods britânicas) não fugiam do padrão ‘precariedade’. E acredite, eram um su-ces-so.

No Brasil, especialmente no sul, alguns desses ‘inferninhos’ tornaram-se notáveis durante as décadas de 80 e 90. Em Porto Alegre, havia o Bar Ocidente, situado num edifício de 120 anos, cujas paredes e reboco eram de barro e dissolviam-se com a chuva. Tratava-se de um verdadeiro espaço lastimável, e que no entanto, presenciou apresentações antológicas das bandas clássicas do rock gaúcho e do rock independente do Brasil inteiro. Ainda em PoA, existia o Garagem Hermética, localizado na boêmia rua Oswaldo Aranha. A reação das pessoas ao chegarem ao lugar era de ‘argh, que coisa horrorosa! Mas, epa, eu posso tocar nessa merda também!’, e assim se formava mais um auê rock’n’roll na cidade.

Aqui em Florianópolis, a história dos inferninhos confude-se com a figura de Franck Schnonemberger, proprietário do primeiro (e curioso!) refúgio roqueiro da ilha – o Trópico’s. O lugar era um ‘barraco’ de madeira com cocos pendurados na entrada e umas cestas de frutas no balcão. De dia, casa de sucos, de noite, casa de álcool. O palco era num ‘puxadinho’, e foi lá mesmo que as bandas da cidade começaram a se reunir pra tocar. Depois o Franck mudou seu negócio pra Av. das Rendeiras, onde nasceu o Underground Rock Bar, o mais saudoso abrigo roqueiro da cidade. O Underground também tinha estrutura de madeira, e parecia um barracão, mas ao menos tinha um logo mais coerente com o contexto (os cocos foram substituídos pelo símbolo do metrô de Londres). Bons tempos aqueles...

Pois bem, amigo. Depois desse discurso todo, a questão que fica é: como pode espaços tão horrorosos e mal resolvidos arquitetonicamente construírem tantas histórias e serem tão freqüentados, a despeito de todo o desconforto térmico, péssima acústica e estética precária? O Júpiter Maçã não é arquiteto, mas sabe responder bem à questão – lugar legal ‘tem que ter um som legal, tem que ter gente legal e cerveja barata’, ponto. E digo mais – lugar legal tem que ter porta de banheiro riscada com recadinhos obscenos, paredes repletas de pôsteres de shows e muros pichados com nomes de bandas. Lugares legais têm que ser Mutantes. E ter muito fuzz pra incomodar os ouvidos dos bossas que dizem o contrário.


* Juliana Barbi é estudante de Arquitetura, e espera não seguir o exemplo de Herbert Vianna, Humberto Gessinger, Roger do Ultraje e Fernanda Abreu. Por que diabos existe tanto ex-estudante de Arquitetura no rock nacional?!

*
[Juju em sua coluna no projeto da revista polifönica. coluna 'abrigos', fevereiro 2005]
ps.: passou o tempo e Juju não conseguiu vencer o destino: hoje ela
toca violão, teclado e canta na banda Verano

11.09.2006

* Wandula em Floripa





Há 3 anos um amigo me emprestou um CD com uma criança de bochechas rosadas na capa de papel. O nome do disco homônimo, que nunca mais sairia da prateleira dos preferidos, logo chamou minha atenção: Wandula. De onde vinha aquele som? De que tempo? De que matéria era feito? De Curitiba, terra da juventude que veio do frio e da melancolia. Da atemporalidade - arriscaria dizer -, moldado pela voz e acordeon da suíça radicada brasileira Edith de Camargo, pelo piano de Marcelo Torrone, pela guitarra de Rafael Martins, pela bateria de J. C. Branco e pelo violão de Cláudio Pimentel. A música do Wandula acaricia, é feita para a alma em dias de algodão. É, ao mesmo tempo, pó, que resseca, árido; e água, que escoa, brinca. Como rotulá-la, senão pela emoção (sempre fresca) que causa?

Para ajudá-los, recorramos às principais influências do grupo, que passeiam pela música minimalista de Yann Tiersen e Philip Glass, pelo vocalismo experimental de Iva Bittova, pela chanson française de Edith Piaf e Barbara, pelo rock do Divine Comedy, Mogway e Calexico. A sonoridade tão particular que nasce dessa fusão, somada às experimentações melódicas e instrumentais dos membros do Wandula, baseia-se numa estrutura musical elaborada com cuidado especial nos arranjos, timbres e texturas sonoras. No repertório, temas instrumentais e músicas cantadas por Edith de Camargo, que compõe em francês, alemão, inglês e português.

O grupo estreou em 1999 e é considerado pela crítica e pelo público um dos expoentes da música independente brasileira, tendo lançado dois discos. Em 2001, foi selecionado pelo Projeto Itaú Cultural - Rumos Musicais para figurar entre os 30 melhores grupos da região sul e, em 2003, fez sua primeira turnê independente na Europa, com três concertos na Suíça - em St. Gallen, Zürich e Gossau.

Com tudo isso sabido, lido e ouvido, eis que parti, no ano passado, para um show do Wandula em sua terra natal. Era como se aquele universo fosse meu, por alguns instantes. Wandula desvenda labirintos.
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No show do dia 27 de outubro passado, no TAC, o grupo trouxe algumas novidades na bagagem: a presença do baixista Denis Nunes e novas trilhas sonoras para filmes imaginários. Uma noite completamente inesquecível, tanto para nós, da polifönica, quanto para o público, que pareceu flutuar. Além das composições inéditas, Wandula relembrou algumas das mais lindas composições de seu primeiro álbum, como Lovetears, Paisagem Progressiva e Moedas de Açúcar (esta em uma nova versao, com baixo, guitarra e bateria). Ouvi da própria banda: “é unânime entre nós: o melhor show do ano”. Quem sabe em dezembro eles repitam a dose por aqui?

Fotos (mais de cem, incluindo essas acima) e entrevista no Underfloripa (link ali ao lado).
Abraço-afagos,
Paula

11.07.2006

polifönica?


A idéia da polifönica surgiu em fins de 2003, quando conheci um cearense queridíssimo representante de selos de música independente brasileira em Santa Catarina. Alexandre Montenegro – a quem serei sempre grata por ter me apresentado as maravilhas de Wandula, DonaZica, Stela Campos e tantos outros - estava reunindo alguns amigos para colocar em prática uma idéia mirabolante: montar na ilha um jornal sobre música brasileira produzida por artistas que não fazem parte do cast das grandes gravadoras nem encontram espaço nos tradicionais veículos de comunicação. Entrei de cabeça no projeto, sem nunca imaginar a proporção que tomaria em minha vida.

Alguns meses (e muitos encontros) mais tarde, as coisas começaram a se delinear: mudamos a mídia (por que não criarmos uma revista, se sua linguagem, cores, formas e texturas sempre nos atraíram tanto?), estabelecemos as pautas, quebramos a cabeça para encontrar um nome que traduzisse a idéia do que tínhamos em mente: uma publicação em que se pudesse ler tanto sobre MPB quanto sobre rock, choro, música eletrônica, bossa nova, experimentalismos. Uma revista feita em Florianópolis, mas que dialogasse com o que se produz nas outras cidades brasileiras, que misturasse sotaques e suprisse – em parte, evidentemente – uma lacuna do mercado editorial.

Como tão (ou mais) importante quanto ler sobre música é poder escutá-la, a polifönica acabou se tornando também uma produtora de eventos musicais em Florianópolis, formada por Alexandre Montenegro, Juju Barbi e por mim. Já arrumamos o camarim de Bïa Krieger, carregamos os amplificadores do The Honkers, Repolho e Verano, ajustamos os microfones para Ceumar, Gigante Brasil e Leila Maria, demos palpites no mapa de palco do Wandula. E vem muito mais pela frente.

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O boneco da revista está pronto, em nossas gavetas, só esperando condições financeiras para ganhar corpo tátil. Por enquanto, resolvemos disponibilizar nossos arquivos por aqui mesmo.

Neste blog, você vai poder acompanhar o que estamos pensando, produzindo, ouvindo. Entrevistas, resenhas, fotos, matérias especiais – aqui é um espaço para a diversidade, a polifönia. Seja bem-vindo! E aguarde novidades em breve, no nosso site, ainda em obras! [www.polifonica.com.br]


Abraços!
Paula Albuquerque

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[Polifönica é formada por Alexandre Montenegro, Juju Barbi e Paula Albuquerque.
Já passaram tantas pessoinhas pela vida da polifönica, que queria aproveitar esse primeiro post pra fazer uma homenagem à Amanda Maykot, Xanda Alencar, Audun Hole, Pati Potira, Fernando Angeoletto e a todos que colaboraram nesses dois anos de projetos!]