3.21.2007

* O Som e o Sentido, segundo Colorir e Constantina






O Som e o Sentido, segundo Colorir e Constantina
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20/03/07
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As bandas instrumentais Constantina e Colorir mostraram, no palco do TAC, quase todas as possibilidades sonoras existentes e fizeram um show memorável.

É um exagero afirmar que o show Música Livre: Colorir & Constantina, produzido pela Polifönica, foi o melhor espetáculo musical realizado em Florianópolis nos últimos duzentos anos, mas para quem tem o ofício de descrevê-lo, a hipérbole talvez seja o único recurso possível. As duas bandas transformaram o ambiente do Teatro Álvaro de Carvalho em um mosaico de experimentalismos sonoros e colagens visuais, subverteram lógicas harmônicas, sugeriram uma forma nova de perceber os sons que vai além de apenas ouvir. Pareciam buscar, a todo o instante, um ponto perceptivo imaginário, um elo comunicativo entre o mundo material e as manifestações do inconsciente. A denominação "música livre" adquire, aqui, seu sentido mais literal.

A dupla Colorir, de Florianópolis, é formada por Pedro Paiva e Peter Gossweiler e foi a primeira a subir no palco. Com apenas uma guitarra, alguns efeitos e meia bateria, os dois músicos surpreenderam desde o início ao radicalizar a idéia de experimentar sonoridades diferentes. Pedro Paiva, na guitarra, apresentava os acordes mais dissonantes possíveis, cheios de trítonos (intervalos musicais carregados de tensão) que não se resolviam, em freqüências sonoras irregulares, enquanto a bateria de Peter Gossweiler pulsava andamentos incomuns, em compassos complexos.

Alguns minutos depois, ainda com a música em andamento, a banda mineira Constantina, formada por seis integrantes, uniu-se a Colorir, como se restabelecesse a ordenação natural da música, com melodias mais amenas e menos desarmonias. Mas esse processo logo é interrompido e de repente ruídos e desafinações juntam-se a paisagens sonoras belas e límpidas, criando uma estrutura sonora única, contraditória, provocante. Na primeira parte do show, uma única canção de 45 minutos de duração, com muitas variações de climas, em um conflito contínuo entre a ordem e o caos, o peso e a leveza.

Uma projeção em uma tela instalada no fundo do palco mostrava cenas surreais, grotescas e belas que não mantinham uma relação lógica com os sons, o que permitia qualquer tipo de interpretação. Outro filme foi projetado em todo o interior do teatro, do teto até a parede. As imagens se movimentavam a todo o instante, o que reafirmava a proposta do espetáculo, de despertar vários tipos de percepções, sem qualquer limite, e dar significações a toda a sorte de absurdo, sonoro ou visual. O sentido da música muitas vezes não está nas partes que a formam (melodia, ritmo e harmonia), mas em toda a estrutura inominável perceptível em sua forma, os timbres, reverberações, ecos, silêncios.

A miscelânea de sons, silêncios e ruídos despertou uma ebulição de sensações na platéia, sentimentos que transitavam entre a repulsa e o encantamento. Ainda no início da apresentação algumas pessoas abandonavam o teatro, outras olhavam assustadas e uma garota na minha frente chegou até a cochilar. Uma hora e meia de show, com apenas um intervalo separando um número de outro, realmente é algo com o qual não estamos acostumados. Mas enquanto minha porção racional ainda procurava entender os significados daquilo tudo, meu subconsciente delirava freneticamente e parecia compreender perfeitamente cada partícula de som.

Mais informações e músicas:
Colorir em www.myspace.com/colorir.
Constantina em www.tramavirtual.uol.com.br
Polifönica - Revista e Produtora de Música Brasileira em www.polifonica.com.br

Daniel Mendonça
eventos@guiafloripa.com.br
Fotos: Juliana Diehl

2 comments:

Anonymous said...

Ótimas as fotos! E mais uma vez, parabéns à todos os envolvidos pelo show maravilhoso! Abraços e beijos!

Juliana Barbi said...

meus guris!